Estes fuzilamentos, este herosmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sêmen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
[…]
Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardamos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Lettre à mes enfants sur les fusillades de Goya, du poète portugais Jorge de Sena. Traduction en français de Luiz Fernando Gaffrée Thompson.
Ces fusillades, cet héroisme, cette horreur
a été une chose parmi mille autres, passée en Espagne
il y a plus d´un siècle parce que violente et injuste
a offensé le coeur d´un peintre appelé Goya,
qui avait un coeur très grand, plein de emporté
et plein d´amour. Mais cela, ce n´est rien, mes enfants..
Qu´un épisode, un épisode bref,
dans cette chaîne où vous êtes les chaînons (ou vous ne serez pas)
de fer et de sueur.et de sang et d´un peu de sperme
en chemin vers le monde dont je rêve pour vous.
Croyez qu´aucun monde, où rien ni personne
vaut plus qu´une vie ou la joie de l´avoir.
C´est cela qui importe le plus – cette gaité
Croyez que la dignité dont on vous ira tellement parler
n´est que cette allégresse qui vient
d´être vivant et sachant que jamais
quelqu´un est moins vivant ou souffre ou meurt
pour qu´un seul parmi vous résiste un peu plus
à la mort qui est à tous et viendra.
[...]
J´avoue que
souvent quand je pense à l´horreur de tant de siècles
d´oppression et de cruauté, j´hésite par moments
et une amertume m´engloutit inconsolable.
Seront-ils en vain ou non ? Mais, même s´ils ne le sont pas
qui fait ressuscister ces millions, qui restitue
non seulement la vie, mais tout ce que leur a été enlevé ?
Aucun instant qu´ils n´ont pas vécu, cet objet-là
dont ils n´ont pas joui,, ce geste
d´amour, qui feraient « demain » .
Et, pour cela, le même monde que nous créions
il nous,revient de le soigner, comme une chose
qui n´est pas á nous, qui nous est cédée
pour la garder avec respect,, comme une chose
en mémoire du sang qui coule dans nos veines
de notre chair qui a été une autre, de l´amour qui
d´autres n´ont pas aimé parce qu´on le leur a volé.
(1988a: 123/124)
Aqui encontrarão contos, poesias e reflexões de vários amigos e/ou poetas amorosos, amigos e queridos, de várias partes do mundo, em um trabalho muitas vezes inconcluso. Esperamos que gostem. Luciana Gaffrée; Luiz Fernando Gaffrée Thompson materportugues@gmail.com
A minha vida imita a minha arte
Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento
Luciana Gaffrée
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