Quando eu era muito novo sentia que me faltava um
lago, superfície que reflectisse o mundo
por inteiro. O meu pai levou-me à lagoa de
Óbidos e tentou mesmo as salinas de Rio Maior “vê
um grande lago salgado” mas só via as quadrículas de terra que
impediam a extensão da água
(era pedir de mais à minha imaginação a troco de meia
dúzia de acções que depressa vendi)
eu queria um lago que pudesse comparar aos versos que trazia
na cabeça (e também no coração)
um lago que espelhasse floresta e montanha (e a lagoa
de Óbidos, se não forem todos os anos ligá-la ao mar
é um charco de onde nunca vi erguer-se um
bando de patos selvagens; mas gosto, e muito, das dunas e dos
pinhais por lá perto; têm musgos de mil verdes
que chamam por ti, com a paixão de um bramido do mar)
um lago que me trouxesse nas nuvens todas do céu
e quando a luz rebatesse a ondeante vaga
saberia que nenhuma imagem pode ser igual a nenhum outro
verso
o lago, eu queria; não era uma chapa de sal nem bacia de
peixes mortos, era descer e descer na região mais sombria
lago que procurava
em sofrimento e medo
por detrás do vidro, o lago
haveria de surgir sem geografia, sem tempo
quando a barca que pousa na margem
me deu o azar e o erro
de nela embarcar um verso e
de partir a remar.
Quand j´étais très jeune je sentais qu´il me manquait un
lac, une surface pour refléchir le monde
entier. Mon père m´a amené à la lagune d´
Óbidos et il a même essayé les marais salants de Rio Maior "vois-tu
un laca salé", mais je n´ai vu que les carrés de terre qui
empêchaient l´extension de l´eau
(c´était trop demander à mon imagination en échange de quelques
actions que vite j´ai vendues)
Je voulais un lac que je pourrais comparer aux vers que je portais
dans la tête (et aussi dans le coeur)
un lac pour refléchir la forêt et la nature (et la lagune
d´Óbidos, si ce n´était pas toutes ces années la reliant à la mer
c´est une marre d´où je n´ai jamais vu s´envoler une
bande de canards sauvages, mais j´aime, et beaucoup, les dunes et les
pinèdes dans les alentours: elles ont de la mousse de mille tonalités de vert
qui t´appellent, avec la passion d´un mugissement de la mer)
un lac qui m´apporterait dans tous les nuages du ciel
et quand la lumière rabattue sur la vague houleuse
je saurais qu´aucune image peut être égale à aucun autre vers
le lac, je ne voulais pas: ce n´était pas une plaque de sel ni un bassin de
poissons morts, c´était descendre et descendre dans la région la plus sombre.
le lac que je cherchais
en souffrance et en peur
derrière la vitre, le lac
surgirait sans géographie, sans temps
m´a apporté la malchance et l´erreur
d´y embarquer un vers et
de partir en ramant.
Versão para o francês/version en français
de Luiz Fernando Gaffrée Thompson.
Aqui encontrarão contos, poesias e reflexões de vários amigos e/ou poetas amorosos, amigos e queridos, de várias partes do mundo, em um trabalho muitas vezes inconcluso. Esperamos que gostem. Luciana Gaffrée; Luiz Fernando Gaffrée Thompson materportugues@gmail.com
A minha vida imita a minha arte
Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento
Luciana Gaffrée
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