A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Poesia portuguesa contemporânea II. Poemas de Fernando Assis Pacheco.

Poeta no supermercado

Indignar-me é o meu signo diário.
Abrir janelas. Caminhar sobre espadas.
Parar a meio de uma página,
erguer-me da cadeira, indignar-me
é o meu signo diário.

Há países em que se espera
que o homem deixe crescer as patas
da frente, e coma erva, e leve
uma canga minhota como os bois.
Há paises destruidores de seus homens,
países nocturnos, tempestade.
E há os poetas que perdoam. Desliza
o mundo, sempre estão bem com ele.
Ou não se apercebem: tanta coisa
para olhar em tão pouco tempo,
a vida tão fugaz, e tanta morte...
Mas a comida esbarra contra os dentes,
digo-vos que um dia acabareis tremendo,
teimar, correr, suar, quebrar os vidros
(indignar-me) é o meu signo diário.


de Fernando Assis Pacheco



Le poète au supermarché


M´indigner est mon signe de tous les jour
Ouvrir les fenêtres. Marcher sur des épées.
M´arrêter au milieu d´une page,
me redresser dans une chaise, m´indigner
est mon signe de tous les jours.

Il y a des pays où l´on s´attend
que l´homme laisse pousser ses pattes
du devant, et mange de l´herbe, et porte
un carcan comme le joug des boeufs
Il y a des pays destructeurs de leurs hommes,
des pays nocturnes, tempête
Et il y a des poètes qui pardonnent. Glisse
le monde, ils sont toujours en paix avec lui.
ou ils ne s´apperçoivent pas: tant de choses
à regarder en si peu de temps,
la vie si fugace, et tellement de morts.
Mais la nourriture se heurte contre les dents,
je vous dit qu´un jour vous finirez par trembler,
bouder, courir, suer, casser les verres
(m´indigner)est mon signe de tous les jours.

Versão francesa/version en français de
Luiz Fernando Gaffrée Thompson.

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