mas o mar visível /de súbito/ de um lado e doutro do cabo carvoeiro/ no nevoeiro/ mas um nevoeiro
então muito leve/ nevoeiro apenas bastante para esfumar alguns contornos/
e deixar o sol rasante da tarde ferir-nos /atingir-nos cá muito fundo/
como as últimas flechas do dia/ condenado/ disparadas talvez pelo mar/
Olho alguns domingos o mar/ e mesmo que o olhe/ talvez através de vidros decapitados por uma janela/
reparo num ligeiro sobressalto da sua superfície supremamente sensível/
e penso que valeu afinal a pena eu ter nascido/ ser mexido e trazido até aqui/
porque pressinto que o mar é um pouco diferente só pelo facto de eu o olhar
[…]
(poema “Há domingos assim”, Toda a terra, p.72)
mais la mer visible/ soudain/ d´un côté et de l´autre du cap charbonnier/ dans les fumées/ mais dans les fumées
alors très léger/ assez de fumée pour tamiser quelques contours/
et laisser le soleil rasant de l´après-midi nous blesser/ nous atteindre là dans l´âme
comme les dernières flèches de la journée/ condamnée/ lancées peut-être par la mer/
Je regarde quelques dimanches la mer/et quoique je la regarde/ peut-être à travers des verres décapités par une fenêtre/
je remarque le sursaut léger de sa surface extrèmement sensible/
et je pense que finalement ça m´a vallu la peine d´être né/ d´avoir été bousculé et amené jusqu´ici/
parce que je prévois que la mer ne change que par le fait que je la regarde
[...]
Versão para o francês/version en français de
Luiz Fernando Gaffrée Thompson
Aqui encontrarão contos, poesias e reflexões de vários amigos e/ou poetas amorosos, amigos e queridos, de várias partes do mundo, em um trabalho muitas vezes inconcluso. Esperamos que gostem. Luciana Gaffrée; Luiz Fernando Gaffrée Thompson materportugues@gmail.com
A minha vida imita a minha arte
Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento
Luciana Gaffrée
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