AS BALAS
São de ferro. Ou de aço?
Diz-se que fazem à entrada
um pequeno orifício,
seguido de uma grande
devastação de carnes
sangrentas. Por isso matam.
Li tudo sobre a morte.
Escrevi sobre a minha
e depois embebedei-me.
A bala vem pelo ar
(ruído onomatopaico) e
crava-se, cava, ceva-se
nessas carnes. Era a minha.
Tive uma bala marcada:
à última hora telefonei
a desistir. 'da-se!
Pior pra o Soares que entra
nestes versos já morto.
São de ferro. A tua era,
ó Soares, ou de aço,
e “agora choro contigo”
ausente uma vila
branca do Alentejo: tu.
Diz-se que fazem assim
um pequeníssimo estúpido
orifício (não quis ver)
como um botão mas
destroem tudo, devastam
tecidos, vísceras nobres,
e então trazem até nós
a morte sanguinolenta.
Se ainda as fabricam
como no meu tempo, creio
que matam num, ah pois,
infinitésimo de segundo.
É brutal. Eu ouvi-as:
perde-se a tesão por um século.
de Fernando Assis Pacheco
Les balles
Elles sont en fer. Ou en acier.
On dit que quand elles entrent
elles font un petit orifice
suivi d´une grande
dévastation de chairs
sanglantes. Voilà pourquoi elles tuent.
J´ai tout lu sur la mort.
J´ai écrit sur la mienne
et après je me suis soûlé.
La balle vient par l´air
(bruit d´onomatopée) et
creuse, crache, crève
dans ces chairs. C´était la mienne.
J´ai fixé un rendez-vous avec une balle
au dernier moment j´ai téléphoné
pour l´annuler. Tant pis!
C´est pire pour Soares qui entre
dans ces vers mort déjà.
Elles sont en fer. La tienne l´était
oh Soares, ou en acier,
et "maintenant je pleure avec toi"
qui n´est pas là un village
blanc de l´Alentejo: toi.
On dit qu´elles font ainsi
un tout petit et bête
orifice (je n´ai pas voulu regarder)
comme un bouton mais
elles détruisent tout, dévastent
les tissus, les entrailles nobles,
et alors amènent jusqu´à nous
la mort sanguinolente.
Je ne sais pas si on les fabrique encore
comme de mon temps, je crois
qu´elles tuent en une, et v´là,
infime fraction de seconde.
C´est brutal. Je les ai entendues
ne plus aller dressées au but pendant un siècle.
Versão francesa/version en français
de Luiz Fernando Gaffrée Thompson
Aqui encontrarão contos, poesias e reflexões de vários amigos e/ou poetas amorosos, amigos e queridos, de várias partes do mundo, em um trabalho muitas vezes inconcluso. Esperamos que gostem. Luciana Gaffrée; Luiz Fernando Gaffrée Thompson materportugues@gmail.com
A minha vida imita a minha arte
Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento
Luciana Gaffrée
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