A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

domingo, 13 de março de 2011

O trabalho, o meio ambiente e os povos/Le travail, l´environnement et les peuples.

Luiz Fernando Gaffrée Thompson: Parece-me que existe um princípio moral ancestral, representado nas sociedades cristãs pela culpa do pecado original, segundo o qual o trabalho deve ser penoso. Quando é prazeroso, a sociedade, com chefes e subordinados, trata de transformá-lo em um fardo.


Aurélio Flôres: "Dizem que na Bahia existem tres tempos lógicos: lento, lentíssimo e Dorival Caími, não por acaso deitado plácidamente em sua rede olhando, "o mar se movimentar". É simbólico e diz da nossa natureza. Já imaginastes um mestre joalheiro suíço ...trabalhando no Rio de Janeiro, com todo o nosso calor e possibilidades, como poderia ter concentração fisica e mental para fazê-lo? Já imaginastes o Tchekhov, o Tolstói ou o Dostoievski escrevendo suas densas obras no calor da Bahia? Não dá, cada povo tem, necessariamente que seguir o seu destino... Será que não é por isso que inventaram o ar condicionado? Para trabalharmos mais ..."


Luiz Fernando Gaffrée Thompson: Com certeza. Sempre me lembro de duas cenas de vida que passei na França; na primeira estava numa casa de campo no inverno, todos liam ou escreviam e havia vidraças e neve no jardim Ocorreu-me que se fosse aqui, teríamos insetos voando que não nos deixariam em paz. De outra feita, estava na casa de uns amigos brasileiros, nos arredores de Toulouse. Era uma casa alugada, pois os dois faziam doutorado lá. Lembro-me que com frequencia o proprietário, um homem de certa idade, vinha ver como estava a casa e fazer pequenos consertos, o que não lhe competia. Ele próprio dizia que como não tinha como ocupar o tempo, isto o distraía. Sempre tive a impressão que vivíamos numa sociedade ocidental decadente, porém somos um país novo. Acho que é justamente isso: trouxemos conosco, colonizadores - recuso a ideia: "fomos colonizados pelos portugueses", na verdade "nós", europeus e negros, somos os colonizadores (ou melhor descendentes deles) -, repito, trouxemos, nós, colonizadores da terra e dos índios, esses sim aculturados, uma civilização não adaptada ao meio ambiente. Criamos aqui uma civilização à ocidental, artificial, que só vai realmente vingar com toda a sua pujança, em todos o pontos do território, quando assumirmos e reconhercermos as nossas condições ambientais.




En français:



Luiz Fernando Gaffrée Thompson: Il me semble qu´il y a un principe moral ancestral, représenté dans les sociétés chrétiennes para la culpabilité du péché original, selon lequel le travail doit être une sorte de châtiment. Quand cela donne du plaisir, la société, chefs et employés compris, s´arrange pour le tranformer en un carcan.


Aurélio Flôres: On dit qu´à Bahia il y a 3 temps logiques: lent, très lent et Dorival Caymmi (compositeur bahianais aux belles chansons indolentes), et cela non pas par hasard: on le voyait toujours allongé dans son hamac regarder "la mer qui bouge". C´est symbolique et cela montre notre nature. Figure-toi un maître horloger suisse qui travaillerait à Rio, sous notre chaleur et avec toutes les possibilités, comment pourrait-il se concentrer physiquement et mentalement pour exercer son métier? Imagine si Tchékhov ou Tolstoï ou Dostoïesvski devraient devraient écrire leur oeuvre dense sous la chaleur de Bahia! Ça va pas, non? Chaque peuple doit sans aucun doute suivre son destin...Est-ce que ce ne serait pas pour cela qu´on a inventé la climatisation, pour qu´on puisse travailler davantage?...


Luiz Fernando Gaffrée Thompson: C´est sûr. Je n´oublierai jamais 2 scènes que já vécues en France: pour la première, j´étais dans une maison de campagne pendant l´hiver, tout monde lisait ou écrivait et il y avait des baies vitrées. Dans ma tête, il m´est venu que si c´était ici, on aurait des insectes qui voltigeraient et empêcheraient les activités intellectuelles; une autre situation, j´étais chez des amis brésiliens dans la banlieue de Toulouse. C´etait une maison louée, puisque le couple y faisaient un doctorat. Je me rappelle que souvent le propriétaire, un homme d´un certain âge, venait faire de petits travaux à la maison, ce qui n´était pas prévu par le contrat. Selon lui c´etait una manière de se distraire pendant l´hiver, puisqu´il n´avait pas grand chose à faire. J´ai toujours eu l´impression que nous vivions dans une société occidentale décadente et pourtant nous sommes un pays jeune. Je trouve que c´est justement cela: nous, les colonisateurs - je refuse l´idée selon laquelle "nous avons été colonisé par les portugais", à vrai dire "nous", européens et noirs, nous sommes les colonisateurs (ou mieux leurs descendants) qui avons colonisé le territoire et...les indiens (ceux-là, oui, aculturés), nous avons créé une civilisation non-adaptée à l´environnement. Nous avons créé ici une civilisataion à l´occidentale artificielle, qui ne va vraiment éclore, avec tout son éclat, partout, le jour où on aura assumé et reconnu nos conditions environnementales.



Original em português: Aurélio Flôres e Luiz Fernando Gaffrée Thompson. Versão francesa: Luiz Fernando Gaffrée Thompson

Nenhum comentário: