A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Montras/ Vitrines, do poeta português/ du poète portugais Carlos Bessa.

Folheiam o jornal e nada acontece,
o cabelo dele continua preto, o dela,
louro alvo, pintado, com nuances.
A cerveja, de horas, está morta, azeda.
Juntos reparam nas saídas e entradas,
com um olhar que se torna insistente
se entra alguém que é, pela aparência,
urbano. […]
[…] Há gestos que são tudo, tréguas,
desejos, perguntas. Por isso fala do
novo apartamento. Ela sublinha,
vagarosa, o número da porta e
o nome da rua. Momentos depois, o
do andar. Um telemóvel começa a
tocar e impressiona o excesso
de solidão com que todos se sentem
o centro das atenções. A loura abre
ostensivamente o jornal na página
dos anúncios. Sabe que quando o jogo
chegar ao fim regressarão as montras,
a procura desenfreada, o mesmo
vazio de sempre


On jette un coup d´oeil sur le journal et rien n´arrive,
ses cheveux sont toujours noirs, les siens,
blonds platinés, teints, avec des mèches.
La bière, ça fait des heures, est morte, amère.
Ensemble ils font attention aux entrées et aux sorties,
avec un regard qui devient insistant
si quelqu´un entre qui est, par l´apparence
urbain. [...]
[...] Il y a des gestes qui sont tout, des trèves,
des envies, des questions. Pour ça elle parle du
nouvel appartement. Elle souligne,
lente, le numéro de la porte et
le nom de la rue. Quelques instants après,
celui de l´étage. Un portable se met à
sonner et impressionne le trop
de solitude avec laquelle tous se sentent
le centre des attentions. La blonde ouvre
ostensiblement le journal à la page
des petites annonces. Elle sait que quand le jeu
sera fini, ils reviendront aux vitrines
à la recherche effenée, le même vide de toujours

Versão para o francês/ Version en français de
Luiz Fernando Gaffrée Thompson.

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