A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

China Doll, de Rui Pires Cabral

Eu ia na passadeira com um propósito mas

a gravata de um homem atirou-me para o coração
do abismo. Uma insuspeitada gravata de seda
com pintas discretas, o catalizador

da vertigem. Aquilo que o vento levantava
na avenida era uma espécie
de música, um barulho de sinos remoto

e descompassado, viam-se algumas flores
a entrar na boca do esgoto como se fosse ali
a casa delas. E sem deixar eco qualquer coisa ruía

nas fachadas, o próprio oxigénio era nesse instante
como uma língua estrangeira. Eu sentia na garganta os tambores
do sangue e os prédios enfadonhos pulsavam
na taquicardia, caíam em desamparo

para a cova do meu peito. Do outro lado da rua
um sinal de trânsito foi a minha âncora.


J´allais sur le tapis avec un but mais

la cravate d´un homme m´a jeté vers le coeur
de l´abîme. Une insoupçonnée cravate de soie
aux pois discrets, le catalisateur

du vertige. Ce que le vent poussait
dans l´avenue était une espèce
de musique, un bruit de cloche lointain

et déréglé, on voyait queques fleurs
qui entraient dans la bouche des égouts comme si c´était là
leur maison. Et sans laisser d´écho quelque chose s´écroulait

sur les façades, même l´oxigène était en ce moment
comme une langue étrangére. Je sentais à la gorge des tambours
du sang et les immeubles ennuyeux battaient
leur tachycardie, ils tombaient en abandon

vers le caveau de ma poitrine. De l´autre côté de la rue
un feu rouge a été mon ancre.

Tradução para o francês/ traduction en français de
Luiz Fernando Gaffrée Thompson

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