A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

domingo, 4 de dezembro de 2011

"Nos finais do verão"/" Les fins de l´été" de Ruy Belo

“Nos finais do verão”:

[…] dou por isso exactamente no fim do mês/ ao levantar os olhos da máquina de escrever e procurar em vão o sol prestes a pôr-se / no estreito intervalo de duas casas à beira-mar onde antes o via / e além disso a passagem do tempo será também visível por exemplo / na altura da pilha dos jornais acumulados a um canto do quarto / no progressivo desgaste do enorme sabonete que dia a dia utilizei / para lavar distraidamente as mãos as diversas vezes que as lavei / Alguma coisa passou para sempre passou irremediavelmente para sempre / alguma coisa que não será principalmente isso mas será também isso / alguns rostos pousados no verão de linhas suaves como certos sulcos na areia / […] Que é feito daqueles rostos de verão / daquelas silhuetas ao pôr-do-sol interpostas por vezes entre a luz e o livro que lia / a que profundidade se encontram agora determinados passos / ainda não há muito indubitavelmente impressos na areia do verão / perguntarei na falta de outras pessoas talvez ao mar esse mar que mora / sempre aqui e não vai para longe com o verão. Ficarei à escuta procurarei distinguir no marulho do mar qualquer esboço de resposta / olharei os contrastes da luz incidindo na superfície do mar / Sei que é em vão que tudo será decerto em vão e que mais uma vez / assisti sem remédio de braços caídos à implacável destruição do verão / […] (“Nos finais do verão” in 2000, p. 34-35)


"Les fins de l´été"

[...] je m´en apperçois exactement à la fin du mois/ quand je lève les yeux de la machie à écrire et je cherche en vain le solei presque au coucher/ dans l´espace étroint d´entre deux maisons au bord de la mer, où avant je le voyais/ et en plus à la hauteur de la pile de journaux entassés à un coin de la chambre/ au progrès de l´usure provoquée par l´utilisation cotidienne de l´énorme savon/ pour me laver le mains toutes le fois que je me les suis lavées/ Quelque chose a fini, sans pitié a fini pour toujours/ quelque chose qui ne sera surtou pas ça mais qui sera aussi ça/ quelques visages posés sur l´été de lignes suaves comme les sillons sur le sable/ [...] Que sont-ils devenus les visages de l´été/ ces silhouettes au coucher de soleil interposées des fois entre la lumière et le livre que je lisais/ quelle est la profondeur actuelle de certais pas/ il n´y en a plus beaucoup empreints sur le sable/ je demanderai faute d´autres personnes peut-être à la mer cette mer qui habite/ toujours là et ne s´en va pas au loin avec l´été. Je resterai à l´écoute je chercherai à distinguer au clapotis de la mer n´importe quel signe de réponse/ je regarderai les contrastes de la lumière tappant sur la surface de la mer/ Je sais que c´est en vain que tout sera sûrement en vain et qu´encore une fois/ j´assisterai impuissant à l´inexorable destruction de l´été/ [...] "Les fins d´été" in 2000.

Versão para o francês/version en français
de Luiz Fernando Gaffrée Thompson.

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