A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Marrocos moderno, paraíso perdido?

É uma pergunta que eu me faço, frequentemente. Conheci o Marrocos há quarenta anos atrás; fiquei encantado. Tive a impressão que era um país de Terceiro Mundo, como o Brasil, mas sem as distorções: de classes sociais daqui, de repartição de riqueza e sobretudo de bem-estar social. A impressão era que se tratava de um povo de civilização milenar, por isso adaptada ao território e ao modus vivendi . A tradição árabe parecia-me repleta de preceitos de bem-viver e de boa-educação, muitas vezes diferentes dos dos europeus (e portanto dos nossos), mas nem por isso menos sofisticados, e eram simpáticos e necessários. Sempre tive a impressão que aqui impusemos (e impomos) uma civilização europeia, cujos princípios não se adaptavam a um territorío majoritariamente equatorial ou tropical que levava o Brasil a me parecer uma civilização ocidental decadente, apesar de ser uma nação, do jeito que é, luso-amecricana, jovem. Bom, o Brasil parece que está sabendo impor a sua cultura de fundo europeu às necessidades da população e é isso que interessa. Mas o Marrocos, como estrará atualmente? Eu tinha a impressão que eram felizes socialmente com seus costumes tradicionais, sem o que se considerava civilizado aqui (e que se tornou o padrão de desenvolvimento para todos, a partir da globalização), mas civilizados à sua maneira: sem fome, num clima mediterrâneo clemente, com uma religiosidade doce, em que uma mesquita servia, como uma praça, fresca sob o sol do meio-dia, para descansar. Templos acolhedores, ao contrário de nossas igrejas sisudas e trágicas - católicas - ou empertigadas - protestantes. Parecia-me que o normal era ser "muçulmano não praticante". Aliás nunca vi nenhma mulher vestida de preto, o máximo que usavam era uma espécide de túnica com fecho-éclair na frente, sobre a roupa ocidental, como uma capa de chuva. Isto algumas, pois uma parte da populção feminina vestia-se à europeia. As jovens eram indenpendtes, trabalhavam fora, enquanto que as mais velhas seguiam as tradições milenares de aparente submissão (contudo não me parecia submissão, mas sim repartição do poder entre os gêneros no lar). Toda a população tinha uma segunda identidade cultural, além daquela de sua etnia marroquina: a francesa, que parecia absorvida de forma positiva pela população, talvez pela proximidade geográfica com a ex-metrópole e à semelhança do cllima mediterrâneo existente na maior parte do Marrocos e na metade sul da França. O que eu via no campo eram as tradições locais, sempres pacíficas e festivas, e uma economia de subsistência (acredito que de exportação também) que produzia alimentos orgânicos, fartos e de excente qualidade, para a saúde e para o paladar: pães ázimos, legumes e verduras sem agro-tóxicos. Os traballhos manuais eram maravilhosos, era uma delícia viver lá. Como andará o Marrocos depois que surgiram a globalização e os movimentos islâmicos radicais? Teriam mudado a sua qualidade de vida, de primeira? É o que pergunnto.

de Luiz Fernando Gaffrée Thompson

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