A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

terça-feira, 29 de junho de 2010

Tremei



Tremei!


Adoro sinais
de nascença, de maquiagem,
na linguagem

Adoro sinais:
tis, cedilhas, acentos
graves, agudos, tremas

São adendos , complementos,
que adensam a leveza
gráfica e fonética
do idioma de Camões
da luso-América dos Sertões

São como enfeites,
jóias pendentes
que pairam no ar
que protegem e que acusam
Ah! que abusam!

Tornam a língua feminina,
como a alfacinha do Chiado, do Bairro Alto
e da mulata da Mangueira, do Encantado
Sofisticada, fresca, faceira

Assim como os Ronaldos,
Gaúcho, Cristiano, Fenômeno
tanto quanto Amália, Adélia, Marília
mantêm e soerguem a música, pá!
de nosso idioma,
como broches, brincos e um colar

Mas...e o trema?
Roubaram os tremas:
olhos negros,
um par de pingentes
duas pedras de ônix?
Levaram-nos!

Cinqüenta agora é ciquenta
Tranqüilo agora está retesado
A língua desmilingüiu-se num mingau fatal
que trama e clama pela excução do trema
Coitado! já em fase terminal, in extremis,
na fogueira da Inquisição

Ai! ai! ai! que comoção!
Porém...sobrou o til!
Ainda bem,
que caracteriza e nos identifica
como uma língua preciosa
que tem como encanto a vogal nasal
lânguida, sensual.
!

 De Luiz Fernando Gaffrée-Thompson

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