O teatro Brechtiano repousa numa série causal, sai do “espaço em quadro” stanislaviskiano, cujo espetáculo era visto como um todo fechado em si mesmo, para abrir-se à História Moderna.
Brecht coloca o valor dos personagens no “trabalho” que desempenham. Daí, a importância do “gestus social”. O personagem é construído a partir do lugar de “Homo oeconomicus” em que ocupa na sociedade. Enfim, no teatro brechtiano aparece a idéia de historicidade, de causalidade em série e de encadeamento temporal, bem como trabalha em base a uma pirâmide hierárquica marxista, pois as funções dos personagens são a hierarquia interna da obra. Enfim, o teatro Brechtiano baseia-se na noção sintética e não taxiômica de vida.
A palavra em Brecht também deixa de ser um “ser constitutivo” e passa a mostrar, dentro da sintaxe narrativa do espetáculo, que não é cristalina, e que nunca será uma perfeita representação da realidade. Pois há uma espessura entre a realidade e a sua representação.
É nessa espessura, nessa leve ponte entre a realidade e a representação da mesma, que será introduzido o Efeito-D. Com a introdução do Efeito-D o teatro de Brecht passa a ser “linguagem em ação”, pois ele é a ponte que permite que o olhar da platéia se desloque do palco, para o lado do sujeito em atividade. Ou seja, é o Efeito-D que faz com que a representação teatral seja algo mais que uma “representação das coisas percebidas”. O Efeito-D está para a relação entre palco e platéia, como a linguagem está – na visão humboldtiana – para a relação entre o sujeito e o mundo. Para Humbolt é a linguagem quem vai dar ao homem a idéia de liberdade para transformar sua história e querer um destindo diferente, mas é o Efeito-D no teatro o que vai permitir que este tenha a função de desalienar o ser humano em busca da sua liberdade e destino diferente.
É pois, então, o Efeito-D o que vai propiciar que a subjetividade da platéia intervenha no desfecho do espetáculo, e que o teatro participe na elaboração da realidade. Sendo assim, ao introduzir o Efeito-D o vínculo entre homem e natureza, visando a transformação social, também pôde ser dado através do teatro.
Outro ponto importante é a relação do Efeito-D com o plano da consciência. Sem essa relação, já explicada anteriormente, seria impensável um teatro didático, como foi o teatro brechtiano. Já que aprender requer pensamento racional, crítico, ordenado e consciente. Como foi dito anteriormente: o Efeito-D permite haver a função político-didática do teatro Brechtiano.
O olhar intrigado tão vital para o teatro brechtiano surge no momento em que o teatro passa a colocar no palco um “mediador” que joga na platéia o olhar de volta pra ela mesma. A platéia olha o espetáculo, mas este joga de volta pra a platéia o reflexo desse olhar. A platéia novamente processa esse reflexo e o devolve ao palco, que novamente por meio do “mediador” devolve o olhar refletido, e como na visão do trabalho em Ricardo tanto como em Marx, o teatro brechtiano também cria uma escala de produção crescente de valor. O valor está no olhar crítico da platéia, que vai se transformando a cada vez que se produz, nesse jogo causal, em novo valor, numa ordem acumulativa.
Esse mediador é o Efeito-D, mediador do encontro entre a platéia e a sua “verdade objetiva”, esta verdade já não está dada do outro lado da quarta parede, separada da platéia. O Efeito-D derruba a quarta parede, e com ela derruba a hipnose, trazendo para a cena teatral o pensamento crítico da platéia, doravante interventora.
Sem a quarta parede, a verdade cênica também se desloca do espetáculo para o pensamento da platéia. Quanto mais realista e crítico e científico e histórico for o pensamento da platéia, maior a verdade cênica alcançada. Sendo assim, o Efeito-D seria a espinha dorsal do teatro da sociedade moderna.
Mas, por que usar o Efeito-D hoje em dia, já que atualmente fatores como casualidade, contingência, e irracionalidade ganham relevância na arte, influenciada por posturas pós-estruturalistas e pos-modernas?
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