A minha vida imita a minha arte

Espero que gostem
das nossas imitações
colocadas em palavras
virgulando, reticenciando
Nossos mergulhos
Nessa loucura chamada
Pensamento

Luciana Gaffrée

domingo, 13 de maio de 2007

A dor póstuma, tão alemã, será?

Depois de ver o filme alemão "A vida dos outros" (diretor: Florian Henckel von Donnersmarck ) sobre a polícia secreta alemã oriental, saio de lá com um forte sentimento: o da dor póstuma. E esse vocábulo "póstumo" ganha tamanho peso - como uma revelação - que hoje domingo, preciso colocá-lo nesse blog, como um enterro das minhas não-decisões, enterro póstumo.
A dor póstuma é quando aparece o espectro da tua ausência num momento passado, é uma morte matada de nossas decisões, aquelas que não tomamos, e essa morte matada surge anos depois, totalmente póstuma, querendo cobrar sua "não-existência", e em seu lugar, senta-se ao nosso lado o vazio, com seu gosto de nunca mais.
Porque não vamos confundir a dor póstuma com o simplório arrependimento, aquele por não ter feito algo que desejava. Até porque nela não há o arrependimento, só a consciência do inevitável. Ela é muito mais dolorosa e cortante. Ela é o fim da possibilidade que você não quis. O arrependimento surge quando numa encruzilhada da vida você vai por um caminho, se arrepende porque queria ir pelo outro, ou até mesmo dá tempo de voltar, mas o encontro póstumo com a dor é quando você na encruzilhada tomou um caminho, viveu esse caminho, e quase no final, de repente do nada surge o "caminho paralelo", que conversa com você, te coloca em cheque, te humilha até, e aí como uma revelação (como o espectro em Hamlet) ele vem exigir que você sinta que todos os lugares que você não ocupou nunca deixarão de existir, e como uma tortura, estarão sempre visíveis para você, iludida, pensar que ainda os têm, mas quando chega perto quase tocando nesses objetos de desejo que você deixou passar, eles desaparecem. E é aí, nesse exato momento de ilusão ótica que a dor póstuma se instala para nunca mais sair.

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